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domingo, 9 de maio de 2010

PERCURSO TEOLÓGICO NA AMÉRICA LATINA: ASPÉCTOS CULTURAIS


Sociedade, cultura e teologia latino-americana

RESENHA
AUSTRI ROGRIGUES JUNIOR
ROSA, Wanderley Pereira da – PERCURSO TEOLÓGICO NA AMÉRICA LATINA: ASPÉCTOS CULTURAIS – FUV, 2008. 31p.


INTRODUÇÃO

O autor retrata em sua abordagem, o percurso que a teologia medieval fez em terras Latino Americana em nome de conquistas supostamente para Deus, através do seu "representante legítimo", o papa, aqui representado pelos seus "soldados": padres, freis e bispos, que não mediram esforços quando os assuntos eram atrocidades e injustiças, bem como subjugo da fé dos povos ameríndios em nome de uma cultura, raça, fé, e religião "superiores". E para os reis de Espanha e Portugal, que como animais vampiros, sugaram não somente o sangue dos povos que aqui viviam, mas todo ouro e riqueza – embora as maiores riquezas "sugadas", tenham sido a vida e a dignidade dessas pessoas.
Wanderley Rosa analisa os aspectos culturais da época, e os fatores que motivaram os vários tipos de "extermínios" na América Latina como um todo, e nas terras TUPINIQUIN, conhecida como BRASIL. Extermínio que os invasores denominaram: DESCOBRIMENTO.
Analisa também o contexto histórico colonial e escravocrata e o quadro que se desenhou no país com a chegada do protestantismo de imigração e de missão no Brasil. Aprofundando os elementos históricos, Wanderley Rosa faz uma abordagem interessante sobre os movimentos pentecostais e neo-pentecostais onde surgem perguntas sobre a identidade do cristão brasileiro, e encerra o seu ensaio com uma abordagem – embora muito sucinta – que ele próprio reconhece, não poderia faltar em um labor teológico sério que se dispõe a discutir teologia na América Latina e no Brasil, que é a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.

ABORDAGENS GERAIS

Em seu ensaio Wanderley Rosa afirma que "a expansão geográfica e colonial européia" empreendida na América Latina por reis de Espanha e Portugal, e não somente esses, pois por aqui também passaram os Holandeses e também os Franceses, "além do forte apelo mercantil" caracterizou-se "como um projeto de dominação cultural e espiritual".
A principal estratégia foi "a demonização da religião do outro". Em suas empreitadas pelas conquistas a que se dispusera, "o europeu hispano-lusitano tem sua consciência limpa", afirma o autor; "pois, sua cruzada é contra as hostes do inferno". De conquista em conquista, os europeus civilizados, seguiram destruindo e subjugando as vidas e as religiões dos povos ameríndios por eles definidas como satânicas.
O choque cultural foi imenso. O europeu que possuía o domínio tecnológico do aço subjugou militarmente os ameríndios. Em função dessa superioridade, "supõe-se a superioridade em todos os outros aspectos: superioridade na organização social e política, no âmbito familiar, superioridade ético-moral, superioridade lingüística, superioridade religiosa, superioridade moral".
Ao analisar as colocações do autor – que é muito claro em seu ensaio – podemos visualizar o quadro sócio-cultural-religioso da época. Em nome de uma superioridade que na imaginação dos invasores era algo concedido diretamente por Deus, aldeias inteiras foram dizimadas, as mulheres eram pegas para si e ou abusadas, homens e crianças escravizados, seus costumes foram desprezados, e, nos povos foram incutida a idéia de "pecado", por andarem nus. Foram obrigados a abandonar as suas religiões: ritos e cultos, sob pena de serem mortos, por serem filhos do demônio. Foram obrigados a vestirem roupas, debochavam de sua hospitalidade, e, desprezavam a sua cultura. "Era como se o outro não existisse. Não havia história escrita. Não havia uma linguagem grafada, ‘não usam letras’".
Esse processo de colonização e subjugação dos povos ameríndios teve nome: REDUÇÃO. Nas reduções os povos eram colocados em assentamentos segundo a vontade dos dominadores. Mas houve resistência e luta o que derramou mais sangue.
"As reduções são essencialmente projetos colonialistas e, como tais, violentos de algum modo. Os povos ameríndios e, posteriormente os negros, são obrigados a abandonar seus antigos deuses e abraçar a fé cristã. Mas não fazem isso sem resistência. Assim, os missionários (e a própria religião católica, pelo menos o catolicismo que vai se instalar na América Latina) acabam sofrendo também a sutil influência da religiosidade nativa".
Não é necessário dizer que o resultado de tudo isso ainda é nítido em nossos dias. Embora muitos historiadores rejeitem a idéia de que a história se repete, podemos dizer sem medo de errar, que, a história se reproduz.
"A conquista da hegemonia marítima pela Inglaterra e a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808 (fugidos das manobras de guerras e as ameaças de invasão a Portugal por parte do imperador francês Napoleão Bonaparte), deram inicio a uma radical mudança no cenário religioso brasileiro".
Fatos importantíssimos aconteceram, dando origem ao protestantismo de imigração e de missão em terras brasileiras. Foram trazidos para o país famílias para trabalhar na indústria e na lavoura. Com a "eugenia", tentativa (inútil, diga-se de passagem) de branquear a raça, D. Pedro II trouxe para o Brasil os imigrantes europeus, entre eles os alemães, que consigo trouxeram o luteranismo.
Após esses e outros fatos estabeleceram-se no país os missionários estrangeiros que trouxeram a sua fé para evangelizar o Brasil; nação pagã, uma vez que o "catolicismo não era cristão". Foram eles:
- Os Anglicanos;
- Os Congregacionistas;
- Os Presbiterianos;
- Os metodistas
- Os Batistas.
Mais tarde o retrato religioso no Brasil toma nova forma. Surge o movimento pentecostal, e, posteriormente, o movimento neo-pentecostal; que muda o quadro da espiritualidade do povo brasileiro que já não se satisfaz mais com os ritos e cultos tradicionais do protestantismo histórico.
O movimento pentecostal trás uma nova mensagem: "a conversão". Mas, continua "demonizando" a religião do outro, enquanto que a mensagem neo-pentecostal é a "teologia da prosperidade".
Entre as décadas de 1950 e 1960 surge no cenário teológico latino americano e brasileiro a teologia da libertação que "brota da reflexão de intelectuais latino-americanos que estavam por assim dizer, com um dos olhos postos na mensagem dos evangelhos e o outro na realidade sócio-econômica do povo pobre e oprimido".

CONCLUSÃO

A teologia da libertação trouxe consigo a opção pelos pobres e oprimidos, a defesa das questões sociais na América Latina e em especial no Brasil. Colocou de lado o ascetismo exacerbado buscando um olhar mais apurado para as coisas da terra, ou seja, o equilíbrio espiritual. Andou de braços dados com a pastoral da terra, movimento social da igreja católica – que em nossa introdução era a grande vilã, e, que aqui em nossa conclusão aparece com outra "cara"; porém passou-se 509 anos de histórias (histórias no plural, porque estamos tratando da História da Igreja na América Latina) – que deu origem ao MOVIMENTO SEM TERRA, o MST. É bom que fique registrado aqui, que, a teologia da libertação não é exclusividade da igreja católica romana. Há uma ala do protestantismo que trilha por esse caminho (nos incluímos nesse contexto). Aliás, a TEOLOGIA da LIBERTAÇÃO inspirou-se no EVANGELHO SOCIAL dos Estados Unidos da América, e no EVANGELHO POLÍTICO da Alemanha (que também adotamos em nossa caminhada teológica). A teologia da libertação também caminha intimamente com a PEDAGOGIA do OPRIMIDO, cujo mentor é o professor Paulo Freire (a pedagogia do oprimido é o nosso foco enquanto educador, pois é excelente fonte de cognição e alteridade).
Em nosso entendimento, entre tantas contribuições que a teologia da libertação trouxe para o contexto sócio-político-religioso latino-americano e brasileiro, foi a abertura ao PLURALISMO RELIGIOSO e ao DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO, que sem dúvida, é muito enriquecedora e extremamente LIBERTÁRIA, embora esse assunto preocupe a muitas pessoas.
Após tantos anos de sujeição, prisão e opressão política e religiosa, a AMÉRICA LATINA precisa de uma teologia que liberte a igreja corpo de Cristo. Nós enquanto teologandos investimos no ECUMENISMO, no PLURALISMO RELIGIOSO, e no DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO (nossos objetos de estudos e monografia do curso de pós-graduação em Ciências da Religião, da Faculdade Unida de Vitória – FUV), e na TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, como fonte de RE-FLEXÃO e RE-SIGUINIFICAÇÃO da IGREJA NA AMÉRICA LATINA.

Austri Junior é Teólogo e Pó-Graduando em Ciências da Religião

2 comentários:

  1. Olá Eduardo,
    muito obrigado pelo seu carinho e pelo seu comentário em meu blog.
    Obrigado por ter publicado o esse meu artigo. Ficou ótimo! Em breve estarei enviando outro.
    Um grande abaço para você para todos os leitores da REVISTA AQUILES que também está cada vez melhor.

    AUSTRI JUNIOR

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  2. TOMEI A LIBERDADE DE POSTAR AQUI O COMENTÁRIO ABAIXO QUE O PROFESSOR HERMES ABREU, FILÓSOFO, TEÓLOGO E DR. EM ANTROPOLOGIA PELA SORBOUNE DEIXOU EM MEU ORKUT, REFERINDO-SE À ESSE TEXTO:

    Prof. H. Abreu:
    Caro Austri,
    Estou com seu texto impresso aqui na minha mesa. Fiz o processo cortar/colar e imprimir. Após uma primeira leitura quero que saiba que vejo mais que uma resenha. Um texto crítico, orgânico.Que comenta uma obra mas exprime a identidade do resenhista. Farei mais algumas leituras no processo "ruminatio" para depois emitir um parecer mais tecnico. Entretanto, desde já parabenizo-lhe pela grandiosidade de sua pena.

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